quinta-feira, 8 de março de 2012

Dia das amélias

Parabéns. [mas parabéns pelo quê mesmo?] Acho que muitas mulheres ouviram isso hoje. Eu ouvi, apenas uma vez, mas ouvi. A pessoa que me falou, não contente com a parabenização, decidiu-se por contar uma piada, que na hora definiu como poema. Era o seguinte:

Um homem pergunta pra outro:
- Mulher gosta de apanhar?
- As normais sim. As histéricas devolvem.

Não sei por que raios esse amigo me contou isso. Mas ok. Vou tentar entender > Esse amigo, até o que eu sei, nunca bateu em nenhuma mulher e ele mesmo já me disse que acha isso horrível. Então seria por isso que ele vê graça no diálogo, por ser muito absurdo, muito grotesco. A piada se faz pela utilzação do esteriótipo (mulher que apanha de homem) e pelo inesperado desumanismo: apanha e tem que gostar, a que não gosta, não é normal.



Mas a piada não tem nenhuma graça simplesmente porque é um dado da realidade.

Temos a porca mania de rir de desgraças, supondo que já estão superadas. Tipo racismo, machismo homofobia. Porca mania. Se mulheres ainda apanham em todos os cantos do Brasil e do mundo, então não, uma piada de mulher que apanha não tem graça. Segundo o IBGE, em 68,7% dos casos de violência contra a mulher registrados em 2010, o agressor é o marido, namorado ou companheiro da vítima. Ainda segundo dados da ONU, uma em cada três mulheres no mundo é vítima de violência doméstica durante sua vida. Ou seja, se você tem duas amigas muito próximas, tem probabilidades estatísticas de ou ser uma das agredidas, ou de atender num belo dia de quarta-feira uma delas chorando ao celular por motivos neolíticos. E ainda tem grandes chances de achar que é uma exessão, um acaso chato, que ela foi escolher logo um troglodita pra namorar. A violência contra a mulher é responsável pela metade (em 2009, 52,3%) dos atendimentos para o Ligue 180. Casos de lesão corporal leve, grave e gravíssima, além de tentativa de homicídio e assassinato.


O triste é que esses casos de violência são encarados como violência passional, conjugal, e aí sempre entra aquele papinho de que em "briga de marido e mulher não se mete a colher", de que relações humanas, principalmente as amorosas, são muito complicadas mesmo e que "a gente sempre acaba perdendo a cabeça"... Detalhe é que no meio desses casos nunca se menciona que, numa briga conjugal, quem apanha e sai ferida, e em último caso, morta, é sempre a mulher. Sempre ou em 95% dos casos.
Então não é uma questão conjugal, se sempre só uma das partes é que agredide, e por conseqüência, só a outra sai agredida, certo? Se fosse meramente briga de casal, os dois se estapevam, ou mutuamente se esfaqueavam e "tudo quite". Não é de violência conjugal que estamos falando.
É de violência doméstica, sim,


mas contra a mulher.



Muitos desses casos acabam em lesões corporais pro resto da vida da vítima, problemas psicológicos, perturbações sociais, morte, ou mesmo uma experiência terrível na memória. Tudo isso pode ser evitado com políticas públicas de visibilidade da mulher e de sua condição na nossa sociedade, sem medo de dizer o quão atrasados e feios são nossos problemas e deficiências para lidar com gênero, o quão machista, SIM, ainda são nossas brincadeiras, costumes, diálogos, piadas, modos de diferentes e DESIGUAIS de abordar os sexos.










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